quarta-feira, 29 de maio de 2013

A linha da miséria



Por Vicente Serejo – Jornal de Hoje

Se fosse prá ser rasteiro – ou ficaria mais elegante linear? – bastaria definir numa frase simples e sem enigmas: para um país de massa, um partido de massa. E estaria retratada com perfeição a relação petista com o bravo povo brasileiro. Só um partido de massa com um projeto de manutenção populista do poder pode festejar um programa de distribuição de renda que não retira ninguém da miséria e com a farsa de que estamos diante de uma nova classe média, jacente e subjacente, nesses pobres trópicos.

Quem consulta dos dados da Secretaria de Assuntos Estratégicos – teria substituído o Serviço Nacional de Informações por inocuidade – descobre que o governo considera classe média a qualquer família que dispuser de uma renda domiciliar entre R$ 1.064.00 e R$ 4.561,00.

Não bastasse o largo espectro da faixa para abrigar o maior número de eleitores, o limite de partida desautoriza uma classe média incapacitada para financiar moradia, alimentação, saúde e educação a si mesma, com tal renda.

A farsa afirma que, alcançada a linha de miséria, ou seja, R$ 70 reais mensais, o miserável brasileiro deixa de ser miserável, segundo os dados do próprio Ministério do Desenvolvimento Social, recentemente divulgados pela Folha de S. Paulo.  Traduzida em números, passa a ganhar no mínimo um dólar por dia com base na régua do Banco Mundial. Ou seja: com R$ 70 reais, o miserável ganha hoje um pouco mais de trinta dólares mensais, portanto, é um homem a caminho da nova classe média.

Seria perfeito não fosse um blefe sem o requinte dos bons jogadores de pôquer. A Folha pediu que fossem feitas simulações com os índices de inflação e constatou que aplicada a inflação de março de 2013 sobre os R$ 70 reais da linha-limite, ou seja, elevando-se para R$ 77,56 reais, já tínhamos naquele mês em torno de 22,3 milhões de miseráveis. E, se a simulação recuar seus cálculos com base na inflação de agosto de 2009 o contingente de miseráveis já chega hoje a 27,7 milhões de pessoas.

A matéria da Folha desmonta, de uma vez, todo o discurso populista do PT e desqualifica com a tinta forte dos números as falácias espalmadas pela presidente Dilma Rousseff quando afirma no seu novo slogan que ‘o fim da miséria é só um começo’. Ou, ainda, que ‘por não termos abandonado nosso povo, a miséria está nos abandonando’, como declarou no discurso que fez em 19 de fevereiro deste ano no lançamento da ação que já teria ‘zerado’ o número de miseráveis no cadastro único da União.

Na matéria, a desculpa esfarrapada do governo, como se a miséria não fosse profundamente real e dolorosa, é que seus parâmetros se baseiam no Banco Mundial. Uma farsa que se torna ainda mais perigosa depois do espetáculo de desespero coletivo que o país assistiu na noite de domingo. Um simples boato do fim do ‘Bolsa Família’ acendeu um gigantesco clamor popular em todo Brasil, aceso com a chama da ira santa do seu povo. Num Brasil onde a pobreza da oposição é a miséria da miséria.



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