sábado, 11 de agosto de 2012

Mapa negro


Bei  Dao*

Ao cabo, corvos frios juntam
a noite: um mapa negro
voltei para casa – pelo caminho avesso
mais longo do que o errado
longo como a vida

traga o coração do inverno
quando a água mineral e as anfetaminas
tornam-se as palavras da noite
quando a memória late
um arco-íris assombra um mercado negro

meu pai, vida-faísca: mínima como um grão
sou seu eco
virando a esquina dos encontros
uma ex-amante esconde-se numa
lufada de cartas revoltas

Pequim, deixe-me erguer
um brinde às suas luzes
deixe que meu cabelo branco aponte
o caminho pelo mapa negro
como se uma tormenta a fizesse voar

espero na fila até que a pequena janela
se feche: Ó o brilho da lua
voltei para casa – reuniões
significam menos do que adeuses
ao menos


*Poeta chinês. Tradução: Régis Bonvicino, com supervisão de Yao Feng.

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