terça-feira, 5 de junho de 2012

Hospedaria enfermal

Há 18 dias hospedado num quarto de hospital
Vendo as madrugadas frias passarem por mim como quem não quer nada
Ouvindo a mãe alucinada de amor que teme pelo seu filhinho acometido de coqueluxe no quarto ao lado
Seu grito desesperado rompe os corredores pedindo socorro pela vida que se desvanece em mais uma crise

E a dor que rasga meu pé
Acometido por uma infecção bacteriana - adquirida no mato por uma ferpa de pau
Vai sendo debelada pelo bisturi da cirurgiã
E as mil doses de antibióticos

O tráfego diuturno das enfermeiras
Com suas seringas, soros e medicamentos prestativos pelos corredores
A moça que faz a limpeza com um sorriso gentil.
A outra de cara fechada se nega a levar o papagaio ao banheiro, pois não é a sua obrigação fazer um favor
A comida regrada de todos os dias me ajuda a sobreviver 

Mesmo trancafiado fico sabendo da covardia
do canalha do quarto distante que assedia as enfermeiras
E elas por não cederem seus apelos são maltratadas moral e fisicamente.
Uma delas com o braço inchado chorou na minha frente
E a cara de pau da esposa babaca que comunicada do fato diz não acreditar na versão da Enfermaria
Outra mulher com depressão pós-parto se dissolve no quarto da frente
Enquanto o bebê chora querendo seu peito, seu leite e o seu calor

Assim os dias passam
Meu colega da cama do lado sempre de bom humor já foi embora
Fico sozinho assistindo as tardes longas
As manhãs sombrias
Que se debruçam no interior do quarto
Sempre com as cortinas fechadas
Mas pode ser sol ou chover lá fora
Aqui é o reino da energia elétrica
Cronometro as horas pelos programas da TV

No meu leito espero cada novo dia
A restauração do corpo mutilado
Que aos poucos se revigora
Pela fresta da porta
Vejo a luz da liberdade me esperando tranquila nalgum jardim


04.06.12

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