sexta-feira, 11 de março de 2011

Poema de Affonso Romano de Sant'Anna

Edital


Por este instrumento faço saber
que é verdade
o que de mim dizem.

É verdade o que alardeiam os inimigos
e os amigos enfatizam.
Sou tudo o que me pespegam.

Quando me acanalham, é verdade,
e é verdade
-quando me embalam

Jovem, indignado,
tentei com engenho & arte
separar do trigo
a outra parte.
Já não consigo. Renegar o joio
é ter o trigo empobrecido.

Quando me atiram pedras, é justo.
Quando me atiram estrelas, quem sabe?
Não vou de mim, de vós, viver a contrapelo.
Sou como Ulisses
na ida e no regresso:
a soma dos descaminhos
a contradição em progresso.

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