quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Tempo nulo

Por François Silvestre

Que miserável tempo é esse? Que não se respeita o direito ao não. Que se justifica voto e adesão sob a bengala do menor mal. De quem se acha no direito de escolher e impor o que é o menor mal. Não venho de tempo sereno, não venho de tempo sensato. Venho do tempo da liberdade cobrada com sangue. Guardando nas ventas o cheiro de carne podre, nas paredes de corredores escuros onde se derramava a placenta da violência nascida e a liberdade era apenas um amontoado de rugas. Não posso ser sereno. Não me foi dada a herança da sensatez . Eu quero a utopia. Eu quero o delírio. É meu direito de querer. Não chamo ninguém pra vir comigo. Vou só. A minha solidão tem o topete de não se iludir com a fantasia da esmola. O meu voto vale pouco, porque a democracia onde ele reside não vale nada. Não troco a liberdade que ganhei às custas dos restos mortais de companheiros que se perderam na sua grandiosidade, pela liberdade que me oferecem ao preço da minha pequenez. Quero a utopia. Quero o delírio. Alguém aí os tem para oferecer? Se não, me deixem em paz. Ou não me ofereçam lições que não pedi. Basta-me a companhia de Zé Régio. Não sei pra onde vou…não sei pra onde vou…Sei que não vou por aí.

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